Para quem me conhece, ou ao menos acompanha esse blog facilmente percebe meu gosto por outras culturas e por experiências novas. Aproveitar meu tão sonhado período sabático na Ilha de Itaparica era o plano, no entanto fui bastante questionada sobre por que a escolha não ter sido um intercâmbio ou uma viagem para o exterior. Não entendiam nada.
Era facilmente “perdoada” quando respondia que o amor e outras questões mais profundas estavam me conduzindo na minha decisão. Alguns vibravam e desejavam felicidades e outros duvidavam se eu me adaptaria ao local. Na verdade, eu já tinha noção que passar de frequentadora dos fins de semana e feriados para moradora exigiria uma mudança de perspectiva de vida, já que a vida em Itaparica funciona num tempo diferente, mas não saberia o quanto isso me impactaria.
Sou soteropolitana acostumada com a correria da cidade e com uma rotina que incluía trabalho, academia e cursos diversos. Já não era muito de sair a noite, mas podia fazê-lo quando quisesse. Além de que a oferta de serviço e comércio era muito maior se comparada com a da Ilha.
Bom, sabia que seria um desafio, mas estava disposta a passar por essa experiência pois uma coisa era certa, ela com certeza me tornaria uma pessoa diferente e muito provavelmente para melhor. E foi com essa perspectiva que parti para a Ilha do Sol.
Conhecendo um pouco da Ilha
A Ilha de Itaparica está localizada na Baía de Todos os Santos e é a maior das 56 ilhas que a compõe. Está dividida em dois Municípios Vera Cruz e Itaparica. Sendo que o centro comercial é concentrado em Vera Cruz, mas especificamente em Mar Grande, onde atracam as lanchas.
Já a cidade de Itaparica é uma cidade histórica, com importante papel na história da independência da Bahia, é muito rica em cultura e beleza, mas com pouco fluxo de pessoas na baixa temporada, tendo em vista não haver mais barco que faça ligação direta com Salvador, o que prejudicou a cidade no aspecto econômico.
A Ilha toda é composta por belíssimas praias que atraem todos os anos um grande número de veranistas e turistas. O apogeu da Ilha, no entanto, foi nas décadas de 80 e 90. A situação mudou depois da construção da famosa Linha Verde que liga Salvador à Aracajú, em Sergipe. Ainda hoje, no verão, o fluxo de pessoas na cidade aumenta bastante no verão, mas nada comparado aos seus tempos áureos
No meio do caminho havia o mar…
Apesar da proximidade com Salvador, cerca de 40 minutos de lancha, existem situações que somente vivendo em Itaparica é possível sentir o impacto. Um delas é a travessia. Para chegar em Itaparica partindo de Salvador há duas possibilidades : por ferry boat e pelas lanchas no terminal marítimo de Salvador. O primeiro leva cerca de uma hora e a segunda 40 minutos. Quem mora na Ilha não titubeia ao dizer que o melhor é pela lancha por conta do tempo que se leva na travessia ser menor e, segundo eles, balançar menos.
Apesar de tão próximo de Salvador, o serviço não é 24 horas, o que limita o acesso do morador da Ilha à alguns serviços que só podem ser encontrados em uma cidade maior. Quem mora na Ilha, deve se planejar para voltar pelo ferry boat até no máximo às 23h ou pela lancha até às 19:30h , no máximo, depende da maré.
A maritimidade é um outro importante fator na vida do ilhéu, pois interfere diretamente na travessia. As condições do mar e do vento determinam se a travessia será tranquila ou não. Na linguagem nativa, se a lancha “vai balançar” ou não. Além do balanço, a lancha é influenciada pela tábua de marés. A maré baixa, pode impossibilitar a lancha de atracar em Mar Grande, pois pode encalhar nas pedras que circundam a Ilha.
Eu senti bastante com essas variáveis, principalmente no primeiro mês. O mês de junho é inverno e começa a chover e ventar mais que o normal. E foi assim que aconteceu nas primeiras três semanas de minha estadia, àquela altura a capitania dos portos ( órgão que determina se o mar está ou não em condições de navegabilidade), inclusive proibiu por uma semana a saída de lanchas devido aos fortes ventos.
Aliando a isso a internet não tinha um sinal estável. Imagina a situação? Eu estava ilhada literalmente. Você deve estar se perguntando: “Não era isso que você queria?”. Caro leitor, tenha paciência comigo, pois sou uma iniciante quando o assunto é morar num cidade pequena e estou bastante inserida no mundo digital, logo não poder me movimentar ou me comunicar pela internet não é algo muito natural para mim.
Hoje vejo que dramatizei um pouco, já que era algo provisório, mas que no momento parecia durar uma eternidade. Acredito que essa idéia é fruto da rapidez que vivemos hoje, as respostar devem ser imediatas e esperar, passa a ser um tormento.
Depois da tempestade…
Após o primeiro impacto com relação a maritimidade, travessia e conexão com a internet, fui aos poucos me adaptando ao movimento local. A tensão inicial deu lugar ao relaxamento.
Como o segmento turístico sempre me interessou bastante, o fato de estar morando num restaurante/pousada deu a possibilidade de vivenciar isso de maneira intensa no contato com os hóspedes da pousada e clientes do restaurante.
Passei a me arriscar mais na cozinha, decidi acompanhar alguns hóspedes em passeios pela ilha, o que com certeza me enriqueceu bastante, pois sempre havia muita conversa e descontração. Conheci mais pessoas do local, conheci a história da Ilha de Itaparica e me apaixonei por ela. Conheci e revisitei lugares lindíssimos que tornam a Ilha um lugar muito especial.
Aqui a academia foi substituída pela caminhada, as olhadas nas redes sociais foram diminuídas, pois contemplar o mar passou a ser um hábito mais frequente. Maravilha é estar em contato com a natureza, purifica. Aprendi mais sobre relacionamentos de um modo geral, com meu companheiro com o qual passei a ficar 24 horas junto, com meus amigos, com a minha família, com meu trabalho e com meu papel no mundo.
Saio mais enriquecida dessa experiência, pois aprendi que sair um pouco de mim mesma ajudou a olhar-me por inteira. Eu tive essa maravilhosa oportunidade, pude olhar para meu cotidiano estando fora dele, sendo colocada em uma outra situação. A inquietude está sendo tomada pela quietude? Bom…se quietude é estar com o coração em paz, Itaparica ajudou bastante nesse processo.





Perfeito é viver tudo que planejou e ser surpreendida pela vida, ser convidada a viver uma nova versão dela, e o melhor de tudo é estar atenta aos sinais e entender o convite. Feliz demais por você!!
Obrigada Aline! Isso mesmo, por mais que planejemos, sempre seremos surpreendida pela vida. Na verdade, essa é a graça dela, não é mesmo?
Ficar alerta, essa é a dica.